"Estou a desenvolver um projecto que propõe a construção de uma ficção teatral e plástica a partir de encontros com portugueses de diferentes idades e perfis. A base fornecida por um conjunto de entrevistas recolhidas em diferentes cidades portuguesas é alterada, expandida e conectada por um trabalho de escrita de ficção e de encenação que contém simultaneamente o imaginário singular de cada participante e a sua diluição pela visão de conjunto. Paralelamente ao meu trabalho de escrita, convidei Luciana Fina a participar nesta pesquisa com o seu trabalho em torno de retratos fílmicos, tendo em vista a construção de uma instalação-vídeo com os retratos dos vários participantes e que dialoga no espaço cénico com a mise-en-scène de um texto dito por três actores (Carla Bolito, Claudio da Silva e Nuno Lucas). Convidei igualmente a acompanhar este processo a socióloga Luísa Veloso, para que possamos pensar juntas esta grande ficção sobre "portugueses". Este blog serve para acompanhar o trabalho de recolha documental e residências até à sua estreia em Novembro na Culturgest, em Lisboa"

Rita Natálio

quinta-feira, 23 de junho de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

RESIDÊNCIAS DE RECOLHA ENTREVISTAS / LISBOA / MARÇO 2011

Culturgest, local de filmagens (Inês Abreu e Silva)

RESIDÊNCIAS DE RECOLHA ENTREVISTAS / FUNDÃO / ABRIL 2010

Antigo Casino Fundanense - local de filmagens

joaquim caldeira, 67 anos
David Josué, 12 anos

Fábio, 15 anos

Antigo Casino Fundanense - local de filmagens

ENTREVISTAS


Excerto da entrevista da Revista da Universidade Fluminense CIBER-LEGENDA a propósito do projecto de improvisação apresentado na Fundação de Serralves em 2009

A performance "Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo", de Rita Natálio, bebe nesse contexto e empreende uma investigação acerca da maneira como pessoas de Lisboa e do Porto se apresentam a si mesmas através de um discurso oral que, em termos históricos, talvez seja a primeira tecnologia de socialização. Através de uma cartografia dessa performatização de si através da fala, se delineiam espécies de “sintagmas comportamentais”, que são remontados segundo uma lógica de improvisação e mixagem por três atores, em tempo real. Através desses puzzles, como nomeia Natálio o procedimento que conecta os entrevistados “reais” à performance, "Nada do que dissemos..." nos permite vislumbrar uma perspectiva dos processos de elaboração do “eu” como esse mesmo procedimento de mixagem ou quebra-cabeça. Tal perspectiva propicia uma reconexão com o mundo social e torna sensível o modo complexo como a imagem que elaboramos de nós mesmos e lançamos no mundo consiste, na verdade, na devolução de uma imagem que se configura como pura multiplicidade.
Uma transitória cartografia das fendas que "Nada do que dissemos..." abre nas estanques dicotomias herdadas de nossa tradição filosófica (verdadeiro/falso; pessoa/personagem; realidade/ficção; profundidade/superfície) é o que propomos com a conversa que segue abaixo.
Icaro Ferraz: "Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo" consiste em uma performance baseada na improvisação oral. O método da improvisação parece-me especialmente interessante ao projeto, na medida em que o imperativo da fala deixa brechas à matéria sobre a qual a psicanálise se debruçou: por exemplo, os atos falhos, as hesitações etc. Em certo sentido, penso que a improvisação abala uma das dicotomias que subjazem ao discurso corrente sobre as narrativas do “eu”: a distinção demasiado estanque entre “pessoa” e “personagem”. Isso parece dar-se na medida em que sem um roteiro pré-estabelecido rigidamente, com a composição dramática em “tempo real”, as pessoas (performers) estão muito mais sujeitos a irromperem na performance na condição de “si mesmos”, de “pessoas”. Foi esse traço que demandou dos Estudos de Performance um conceito como o de “persona” para referir-se ao que no teatro convencional chamamos personagem, já que no performer confundem-se ator e personagem. Creio que a impossibilidade de decidir sobre a matriz referencial das experiências narradas em "Nada do que dissemos..." também se deve ao método empregado. Que potencialidades você vislumbra na improvisação e na performance, na direção de uma estética que coloca sob suspeita as crenças com respeito à coerência das identidades pessoais?
Rita Natálio: A improvisação em si não coloca em risco a coerência das identidades pessoais. Mas permite jogar com os parâmetros que constroem essa coerência, sem ter que necessariamente respeitar a matriz referencial. Com isto quero dizer que as entrevistas que realizei previamente não são “originais” dos quais replicamos “copias” mas simpuzzles dos quais retiramos peças para uma nova composição em tempo real, e aos quais se somam todas as peças que os próprios performers trazem enquanto pessoas.
Cada composição é imprevisível e de certo modo indomável. Mas ao mesmo tempo contém em si todos os traços que permitem ao espectador vislumbrar uma “pessoa” ou uma “personagem”. Não faço aqui qualquer distinção entre ambas pois neste contexto teatral, pessoa e personagem, ator e personagem, são uma mesma coisa. Aliás, “Nado do que dissemos...” é precisamente uma investigação sobre as narrativas identitárias e sobre a forma como uma “pessoa”, ainda que vivendo uma vida concreta de carne e osso é solicitada a construir uma dramatis persona sempre que filtra a sua vida pelo discurso, sempre que abre a boca para falar em nome próprio. E já que falamos de psicanálise, porque não lembrar que os processos de terapia contêm em si mesmos, estratégias de remodelação e reestruturação do discurso sobre si? E que nesse sentido são talvez o exemplo mais paradigmático de uma verdadeiro trabalho dramatúrgico da identidade?
leiam a versão integral desta entrevista aqui



ENTREVISTAS



entrevista 2009/ e-Museu do Património Imaterial